Pegou uma vergamota da fruteira, desfiou os gomos e deixou uma baba doce pingar do canto dos lábios. Nem pensou em deixar um bilhete, saiu às pressas, deu-lhe na telha. Encostou a porta como que pisa em ovos, ajeitou o decote e desceu as escadas. Sentiu prazer em cada degrau. Sentiu mais prazer ainda e uma demasiada intolerância, em cada rangida das madeiras do assoalho. Deu adeus à maçaneta torta. Respirou na calçada e fitou um transeunte. Atravessou a rua a passos largos e em meio ao concreto sumiu de mim.
Ainda por cima largou os cigarros na geladeira. As frases por debaixo do sofá. Na cabeceira um livro fútil. No banheiro a intimidade às vistas. Um retrato caído, a cama desfeita, a chaleira dentro do baú, as chaves com o cachorro, a janela entreaberta, um quadro dependurado nas cortinas, um disco POP no travesseiro e a TV no quintal.
E claro, deixou uma blusa para buscar num dia de frio.
Malmente acordado, vi minha casa tornar-se a rua e a rua por sua vez, dar-me medo. Com os olhos amarrotados, medi a casa e vi os livros e a vitrola intactos. Em minha esquizofrenia cotidiana, me ative a eles. Agarrei-os e permaneci na confusão do mundo das coisas. Sentado no tapete empoeirado, com um vinho e duas taças, aguardo o inverno dentro das cuecas que me restaram.
Ainda por cima largou os cigarros na geladeira. As frases por debaixo do sofá. Na cabeceira um livro fútil. No banheiro a intimidade às vistas. Um retrato caído, a cama desfeita, a chaleira dentro do baú, as chaves com o cachorro, a janela entreaberta, um quadro dependurado nas cortinas, um disco POP no travesseiro e a TV no quintal.
E claro, deixou uma blusa para buscar num dia de frio.
Malmente acordado, vi minha casa tornar-se a rua e a rua por sua vez, dar-me medo. Com os olhos amarrotados, medi a casa e vi os livros e a vitrola intactos. Em minha esquizofrenia cotidiana, me ative a eles. Agarrei-os e permaneci na confusão do mundo das coisas. Sentado no tapete empoeirado, com um vinho e duas taças, aguardo o inverno dentro das cuecas que me restaram.
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